Nova edição de revista é lançada no Complexo Estevão Pinto

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Nova edição de revista é lançada no Complexo Penitenciário Estevão Pinto

Detentas mudaram a rotina e aprenderam sobre fotos e textos jornalísticos

 

Dezesseis presas do regime semiaberto do Complexo Penitenciário Feminino Estevão Pinto (Piep), em Belo Horizonte, tiveram a oportunidade de registrar o cotidiano da vida encarcerada e das saudades que ficaram lá fora. Elas participaram, em julho desse ano, de uma oficina de comunicação ofertada pelo Projeto Voz, onde produziram a quarta edição da revista A Estrela.

Nesta segunda-feira (25/9), a publicação foi lançada na unidade prisional e contou com a presença de representantes da Secretaria de Estado de Administração Prisional (Seap), do Poder Judiciário, e funcionários do complexo.

Da cela para uma sala de aula com câmeras, lentes, blocos e canetas. No decorrer de uma semana elas mudaram a sua rotina e aprenderam sobre fotos e textos jornalísticos, e puderam colocar no papel as histórias que gostariam de contar e as que as afligiam. A empolgação e a felicidade de receber o trabalho impresso estavam estampadas nos rostos das detentas.

Para a presa Rosângela de Azevedo, participar da atividade lhe trouxe uma injeção de ânimo. “Foi muito bom, aproveitei como ninguém. Me senti uma jornalista em alguns momentos, é algo que vou contar com orgulho e alegria para minha família e minha neta”, disse.

A superintendente de Atendimento ao Preso, Louise Bernardes Leite, esteve na cerimônia de lançamento. Para ela, ações como essa devem ser difundidas por todo o sistema prisional. “Hoje foi demonstrado pelas próprias custodiadas que participaram do evento, o quanto essa iniciativa é de extrema importância para humanização do atendimento. Ficou demonstrado a elevação da autoestima, o empoderamento feminino, a segurança no falar e no olhar, enfim, foi muito perceptível o quanto o curso foi importante para a mudança no comportamento delas”, afirmou.

O projeto Voz, criado em 2014 pela jornalista Natália Martino e pelo fotógrafo Leo Drumond, foca iniciativas nas áreas de educação e comunicação desenvolvidas em unidades prisionais, trazendo a voz da população carcerária para o debate acerca do tema. A primeira edição da revista foi feita na Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac) de Itaúna. Outras três edições foram lançadas também: uma na Apac de São João Del Rey, outra na Apac Feminina de Rio Piracicaba e a terceira na Ala LGBT do Presídio de Vespasiano.

Segundo Nathalia, e edição da Piep foi a que teve o menor tempo de produção e a maior quantidade de material produzido. “Elas se empenharam demais, algumas coisas tivemos que tirar porque não cabia na revista. As mulheres colocam mais emoção na história, tem menos receio de falar dos assuntos mais pesados. Elas também tiveram muita disposição, aprenderam a usar a câmera muito rápido, escreveram muito, colocaram uma energia muito forte no trabalho. A gente fica feliz de poder proporcionar um pouquinho disso pra elas, esperamos que essa autoconfiança saia com elas daqui para que elas possam realizar os seus sonhos”, destacou.

Além da revista, durante a oficina, as presas também produziram um clipe de uma música autoral e uma estrela artesanal, que ilustra a capa da atual edição. A peça, pela primeira vez, contou com a ajuda de um artista plástico. Sérgio Faleiro, que também é professor de bijuterias, ensinou um pouco do ofício às detentas, que usaram as técnicas para fazer a estrela. Já o rap, produzido pela presa Patrícia Grasiele, fala sobre as relações amorosas dentro e fora da unidade – e inclusive concorreu no Festival da Canção Prisional (FestpriI) 2017, Regiões Metropolitana e Centro Oeste.

A presa Elen Cristina Rodrigues, de 32 anos, era uma das mais empolgadas no lançamento. Com apenas o ensino fundamental completo, teve a primeira oportunidade de manusear uma câmera profissional. “Eu era muito agitada, a oficina me acalmou. Aqui nós ganhamos muitas chances de estudar e trabalhar. Isso faz a gente ver o outro lado da vida, que não precisamos do crime, que podemos conseguir realizar os nossos sonhos, basta querer”, enfatizou.