Adolescentes em medida socioeducativa concluem estudos

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 Adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa concluem ensinos fundamental e médio

Cerimônia de formatura da Escola Estadual Jovem Protagonista reuniu professores, alunos e familiares na unidade Santa Clara; quase 80 jovens se formaram

 

É por meio dos livros que Jéssica*, de 17 anos, planeja construir um futuro melhor. Em cumprimento de medida de internação no Centro Socioeducativo São Jerônimo, em Belo Horizonte, ela hoje sabe que conseguirá trilhar um novo caminho, longe da criminalidade: “Os professores nos incentivam a correr atrás. A escola abre espaço para a gente querer ser alguém e mostra que existem outras oportunidades na vida”.

Jéssica está entre os 78 adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa que se formaram neste ano nos ensinos fundamental e médio na Escola Estadual Jovem Protagonista, instalada em sete unidades socioeducativas de Belo Horizonte.

Para celebrar a formatura, uma cerimônia de colação de grau reuniu professores, diretores, jovens e familiares no Centro Socioeducativo Santa Clara. A solenidade foi realizada por meio de uma parceria entre a Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) e a Secretaria de Estado de Educação (SEE).

Segundo a subsecretária de Atendimento Socioeducativo da Sesp, Camila Barbosa Neves, a escolarização é um dos pilares fundamentais na reinserção de adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa.

“A educação é o principal eixo para dar uma perspectiva de futuro para os adolescentes. E é por isso que essa parceria com a Secretaria de Educação é muito rica; sem eles não conseguiríamos abrir o horizonte desses jovens”, ressaltou Camila.

 

Mostra cultural

Durante a cerimônia, que homenageou agentes e professores que contribuíram de maneira especial para a formatura, os participantes puderam visitar uma mostra cultural com exposição de trabalhos artísticos elaborados durante todo o ano pelos alunos. Adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa concluem ensinos fundamental e médio

Um dos prédios da unidade foi todo enfeitado com desenhos, pinturas, esculturas, fotos, fanzines, cordel e xilogravuras. Ao percorrerem as salas coloridas, os adolescentes puderam ver os próprios trabalhos e também as artes produzidas pelos alunos de outras unidades.

Segundo o diretor da Escola Estadual Jovem Protagonista, Vinícius Aparecido Braz, as temáticas da consciência negra e das diversas formas de preconceito foram bastante trabalhadas com os alunos nos últimos meses, de forma multidisciplinar.

“O resultado está nessa exposição, que é uma expressão das vivências dos próprios alunos e de seu protagonismo juvenil”, afirmou. “A arte abre outra forma de reinserção na sociedade. Eles percebem que dominam uma habilidade que até então desconheciam”. 

Para a diretora de Formação Educacional da Subsecretaria de Atendimento Socioeducativo (Suase), Poliane Inácia Figueiredo, é gratificante ver os frutos dos trabalhos feitos pelos jovens. “O eixo da educação fomenta o vínculo dos adolescentes com a escola, de modo que eles prossigam nesse processo de responsabilização e ressocialização”, ressaltou.

Tia de um dos formandos, Lucimar Fernandes Santos, de 59 anos, era só orgulho: “Conversei com seu professor e ele me mostrou o seu trabalho”, disse ela ao sobrinho Lucas*, que retribuiu cheio de sorrisos. “Toda vez que venho visitá-lo eu falo com ele que ele precisa levar para o mundo lá fora tudo que está aprendendo aqui. É preciso se esforçar”, prosseguiu.

Jéssica*, que concluiu o 9º ano do ensino fundamental ao mesmo tempo em que faz um curso de Administração no Senai, também ficou orgulhosa de ver os trabalhos de sua unidade, São Jerônimo, na exposição artística.

“Em outubro, nós fizemos nossa própria eleição. Tinham candidatos, discursos, debates, urna e uma votação de verdade. Fui escolhida a presidente da escola”, contou, animada. Ao seu lado, Laura*, de 16 anos, logo começou a cantar o jingle criado especialmente para a campanha eleitoral da colega, que se elegeu pelo “Partido Jovem com Futuro”. Se um dia chegará a alguma presidência de verdade Jéssica ainda não sabe, mas um futuro melhor, certamente, está nos planos. 

* Nomes fictícios para preservar as identidades dos adolescentes, conforme indicação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)